terça-feira, 8 de novembro de 2011

Recorde de produção eólica em Portugal (23/10)

Diz-nos o Jornal de negócios que no passado dia 23 de Outubro pelas 20h15 Portugal bateu novo recorde de eólica com 3.680MW em produção. Tive curiosidade e fui ver o que se passou nesse Sábado em termos de mercado ibérico de electricidade. Do site da REN tira-se estes gráficos interessantes do dia:

Diagrama de consumo português

Saldo importação/exportação (lado português)
Como se pode ver perfeitamente, à hora em que Portugal batia o recorde, 800MW de energia eléctrica era exportada para Espanha. Não me recordo exactamente mas penso que essa noite foi bastante ventosa e chuvosa.

A explicação para os dois períodos de exportação nacional de energia eléctrica descobre-se consultando o diagrama de consumo da Rede Eléctrica de Espana (REE) do mesmo dia.

Diagrama de produção espanhol
É notório que que entre as 8h-11h e as 19h-24h Espanha não teve sopreprodução de geração eléctrica. A mancha amarela clara é a da importação/exportação e ela deixa de estar abaixo de zero nessas horas. Da mesma forma a mancha azul (hidroeléctrica) também passou para a parte positiva do eixo. Isso significa que as barragens deixaram de bombar para passar a turbinar. A produção eólica, tal como em Portugal, manteve-se elevada todo o dia. A razão para estas variações no gráfico espanhol serem relativamente mais esbatidas do que no português prende-se com o facto de a produção espanhola ser mais de cinco vezes superior à nossa.

Assim, a exportação portuguesa não foi motivada por excesso de produção nacional mas por carência espanhola (ou francesa ou marroquina). A cobertura foi, tal como do lado espanhol, efectuada recorrendo a produção eléctrica controlável, ou seja, hidráulica (também em Portugal nestas horas as barragens deixaram de bombar e passaram a turbinar) e também térmica. Nos dois gráficos seguintes é visível o incremento da produção das barragens e das centrais térmicas nos dois períodos de exportação.

Produção hidroeléctrica portuguesa

Produção termoeléctrica portuguesa
Ou seja, apesar da intensa produção eólica a gestão da carga na rede ibérica teve de ser efectuada com produção ordinária. Como a exportação não foi motivada por excesso de eólica mas por falta de produção em Espanha, nas horas de exportação, o custo da electricidade na Península Ibérica subiu como se pode ver no gráfico abaixo.
Se não fossem as tarifas pagas à produção eólica a exportação neste dia até teria sido lucrativa para Portugal. Por se tratar de um Sábado o custo da electricidade andou numa média de €40/MWh mas no período 8h-11h foi exportada a cerca de €42/MWh e no período 21-23h a quase €55/MWh. Se Portugal adoptasse a tarifa FIT que me parece justa (€55/MWh), e que os espanhóis querem implementar, neste Sábado 23/10 a produção eólica teria atingido a paridade na últimas horas do dia. Mas como é remunerada a €95/MWh a exportação significou que parte do valor da factura eléctrica de todos os portugueses foi oferecida aos nossos vizinhos.

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