segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Portugal não suporta um reactor nuclear? (2ª parte)

Depois de ter analisado os cenários de um mix de produção de energia eléctrica em Portugal em 2025 com três e duas centrais nucleares de 1.600 MW parece-me interessante conceber mais dois cenários, 1 reactor nuclear e 0 reactores e máximo de eólica. Antes de continuar parece-me útil esclarecer alguns pontos:
  1. Graças à generosidade da remuneração, a co-geração que era suposto servir apenas para aproveitar calor gerado noutras actividades, tornou-se uma oportunidade de negócio para empresas que nem têm a geração eléctrica como core business. Assim a co-geração está sobredimensionada em Portugal, como denunciaram recentemente Delgado Domingos e Mira Amaral, e podia ser reduzida, o que facilitaria a integração de produção nuclear nos vários cenários.
  2. Como não consigo saber qual o valor justo mantenho a produção dos últimos 12 meses.A eficiência da bombagem é, como até reconhece o PNBEPH, inferior aos 75% que tenho considerado. Admitindo 70% de eficiência o país, em 2025, terá capacidade de consumir 6.570 GWh/ano em bombagem, ou 2250 MW médios.
  3. Para facilitar as contas tenho deixado de fora outras formas de produção eléctrica (solar, biomassa, RSU, mini-hídrica, etc). Não só porque geram quantidades pequenas de energia e por isso facilmente consumidas, mas também porque algumas (solar, mini-hídricas, microprodução) deviam perder os subsídios elevados que recebem e por isso o mais provável seria estarem extintas em 2025.
  4. Na 1ª parte admiti que em 2025 não existe produção eléctrica com carvão e através de turbinas eólicas. Em 2025 o nosso parque produtor a carvão já estará velho a que se soma as penalizações ambientais, que espero, tornem economicamente obsoleta esta forma de produzir energia eléctrica. Se Portugal diminuir (ou acabar) com as tarifas feed-in para a eólica a adição de parques vai acabar. Como a longevidade de um parque é de cerca de 15/20 anos em 2025 já sobrará pouca potência eólica instalada.
  5. Não acredito que em 2025 o consumo nacional seja igual ao de 2010. Não só porque me parece que obter 25% de eficiência energética como o governo pretende para 2020 é optimista como espero que a economia do país se desenvolva e cresça entre 2015 e 2025. Adiciono mais 5.000 GWh para bombagem o que dá um total de 57.200 GWh. Refiz as contas dos cenários 1 e 2.
  6. O consumo mínimo de 4.500MW admitido exclui bombagem.
As condições enunciadas na 1ª parte mantêm-se.

Cenário 3 (1 reactor nuclear - 1.600 MW)
Somando os 1.600 MW aos 734 MW da co-geração a produção de base fica aquém do consumo. A bombagem não é necessária. 21% das necessidades de abastecimento do país (57.200 GWh/ano) são satisfeitas com nuclear. A co-geração vale 11%.  O potencial hidroeléctrico líquido (13.300 GWh/ano) cobre mais 23%. A maior fatia, 45% (25.553 GWh) poderá vir das centrais de ciclo combinado que funcionarão com uma produtividade bastante maior ou numa combinação gás natural/eólica/bombagem acreditando que a produção eólica é economicamente competitiva nessa altura e que a bombagem servirá para aproveitar importação barata da Europa.

Tendo em conta o tempo que leva a construir uma central nuclear e a situação política em Portugal, até este cenário em 2025 me parece mais um acto de fé do que uma forte probabilidade de ser concretizada, ainda que mais provável do que os cenários 1 ou 2.

Cenário 4 (sem produção nuclear, máxima prioridade à co-geração seguida da eólica; não recorrer à exportação por excesso de eólica)
A capacidade máxima de escoamento em vazio é de 6.750 MW (4.500 + 2.250). Descontando os 734 MW da co-geração isso permite o país esticar até um máximo teórico de 6.016 MW de potência eólica instalada sem obrigar à exportação. Este valor é inferior aos 6.800 MW constantes no PNAER português. Com uma produtividade de 25%, o parque eólico forneceria 23% (13.175 GWh) das necessidades do país, praticamente o valor que analisei aqui. A co-geração mais 11% e as barragens mais 31% (23% líquidos e 8% em resultado da bombagem). O gás natural teria de contribuir com os restantes 34%, o que faria da produção termoeléctrica a base do diagrama de cargas.

Conclusão
Tendo em conta os pressupostos que considerei para a construção destes quatro cenários o 4 (eólico) só permite importar menos gás natural (ou usar menos algarvio) do que com a instalação de uma central nuclear. Três centrais nucleares em 2025 iria sobredimensionar e encarecer o parque por obrigar a manutenção de CMECs. A existência de duas centrais nucleares seria o cenário mais racional, que garantia maior independência energética e o preço da electricidade mais baixo.

Se se mantiverem as actuais tarifas feed-in para as renováveis o cenário 4 é aquele que produzirá o preço mais elevado de electricidade, provavelmente o mais alto do mundo em 2025, dado que esse custo é ainda ampliado por se recorrer enormemente à bombagem com uma eficiência baixa. As consequências no preço de se associar eólica subsidiada e bombagem abordei aqui e Pinto de Sá detalhou melhor aqui.

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