terça-feira, 4 de outubro de 2011

O bom senso holandês

Reactor nuclear holandês de Borselle (400 MW)
Vou já desfazer equívocos e satisfazer a curiosidade: não, a Holanda não seguiu a moda anti-nuclear alemã. Têm sido tantos os acontecimentos na Europa em redor da energia nuclear que já me tinha esquecido da decisão que os holandeses tomaram pré-Fukushima. Ou seja, antes do alarmismo do acidente japonês tolher o bom senso de boa parte dos decisores e eleitores europeus. Mas nem todos, os holandeses decidiram reduzir drasticamente os incentivos às renováveis, construir a primeira central nuclear em 40 anos e abandonar a parte renovável das metas 20-20-20. Ironicamente, ao reforçar no nuclear os holandeses têm uma hipótese muito maior de cumprir a parte ambiental das mesmas metas.

Ainda antes desta tomada de decisão os holandeses sempre tiveram alguma parcimónia a instalar potência renovável, nomeadamente eólica. Hoje não chega a existir 2.300 MW de potência eólica na Holanda graças a uma política que apenas atribui incentivos à instalação dos parques e não à produção, como devia ter sido feito, pelo menos no caso da co-geração, em Portugal. Esta reduzida instalação também se deve à resistência exercida por uma população esclarecida activa na contestação que faz ao impacte visual das turbinas e à competitividade da electricidade assim gerada. Se a Holanda quisesse atingir a meta de integração de 20% de fontes renováveis na produção energética teria de ter 12.000 MW de potência eólica no país.

Gráfico do desperdício de eólica na Holanda
As características holandesas para a produção eólica não são muito diferentes das da Dinamarca. Tem bons ventos por estar situada a norte mas, por ser um país plano, não tem barragens para armazenar excesso. E tem um parque termoeléctrico que co-gera vapor para aquecimento e por isso está menos disponível para fazer flutuar a sua produção ao sabor do vento. Já o que os dois países fizeram com este enquadramento é totalmente dispare.

Um estudo holandês sobre a capacidade de escoamento de energia eólica concluiu que a partir dos 4.000 MW de potência produzida se começa a desperdiçar energia.

Desperdiçar energia por excesso de eólica instalada é algo que o Reino Unido já tem experimentado de forma bem dispendiosa. Mas os britânicos estão com os holandeses na convicção de que o futuro passa pelo nuclear. Talvez porque a comunicação social inglesa tem exposto a irracionalidade da desmedida aposta renovável, os súbditos de Sua Majestade têm-se tornado mais favoráveis à aposta na energia nuclear mesmo depois do tsunami do Japão. O Reino Unido tem reunidas todas as condições para replicar, no futuro, a sustentabilidade energética que a França já goza.

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